Cinco choques simultâneos! A lógica por trás desta queda do bitcoin é completamente diferente das anteriores

A lógica de investimento do Bitcoin está passando por uma transformação, e a importância da gestão de risco foi elevada a um patamar sem precedentes.

Autor: Bao Yilong

Fonte: Wallstreetcn

O Deutsche Bank acredita que a lógica por trás da recente queda do Bitcoin mudou fundamentalmente.

De acordo com o Trading Desk, em 24 de novembro, o Deutsche Bank publicou um relatório afirmando que, ao contrário das quedas anteriores impulsionadas principalmente pela especulação de investidores de varejo, o ajuste atual do Bitcoin é resultado da combinação de cinco choques: ventos macroeconômicos contrários, sinalização hawkish do Federal Reserve, estagnação no processo regulatório, saída de capital institucional e realização de lucros por holders de longo prazo.

Dados mostram que o Bitcoin despencou quase 35% do pico de cerca de US$ 125.000 no início de outubro para perto de US$ 80.000, evaporando cerca de 1 trilhão de dólares em valor de mercado total das criptomoedas. Este ajuste não é mais um evento isolado dentro do universo cripto, mas sim uma manifestação concentrada da natureza de ativo de risco do Bitcoin à medida que se integra cada vez mais ao sistema financeiro macro global.

O relatório enfatiza que a correlação do Bitcoin com ações de tecnologia aumentou significativamente, e a narrativa de "ouro digital" como ativo de proteção está sendo severamente testada no ambiente atual. Isso indica uma mudança fundamental na lógica de investimento do Bitcoin, elevando a importância da gestão de risco a um novo patamar.

Primeiro choque: alta correlação entre Bitcoin e ações de tecnologia

A queda do Bitcoin desta vez ocorreu em sincronia com outros ativos de risco como as ações dos EUA, mostrando que sua função como ferramenta de hedge defensivo ainda não foi estabelecida.

(O valor de mercado do Bitcoin foi o primeiro a cair entre os ativos de risco)

O Deutsche Bank aponta que, com o shutdown do governo dos EUA, a retomada das tensões comerciais globais e preocupações com avaliações relacionadas à IA, enquanto as ações dos EUA enfraqueciam, o movimento do preço do Bitcoin se assemelhou mais ao de uma ação de tecnologia de alto crescimento do que a um instrumento de reserva de valor independente do mercado.

Dados mostram que, até agora em 2025, a correlação diária média do Bitcoin com o índice Nasdaq 100 atingiu 46%, enquanto a correlação com o S&P 500 subiu para 42%.

(Nas últimas semanas, a correlação do Bitcoin com o Nasdaq e o S&P 500 aumentou)

Essas duas correlações aumentaram drasticamente nas últimas semanas, atingindo níveis semelhantes aos do período de estresse do mercado durante a pandemia de 2022. Como o Bitcoin é negociado 24 horas por dia e possui um coeficiente beta mais alto, geralmente antecipa os movimentos do S&P 500.

Em contraste, ativos tradicionais de proteção como ouro e títulos do Tesouro dos EUA tiveram desempenho superior recentemente.

Por exemplo, em 10 de outubro, após o governo Trump anunciar ameaças tarifárias, o Bitcoin caiu 5,6%, enquanto o ouro subiu 1,03% e o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos dos EUA subiu 10,6 pontos-base.

Embora o ouro tenha caído mais de 3% em relação ao pico de meados de outubro e o rendimento dos títulos de 10 anos dos EUA tenha subido cerca de 11 pontos-base desde 22 de outubro (de 3,95%), ambos ainda superaram o desempenho do Bitcoin.

Segundo choque: incerteza na política monetária intensifica vendas

A incerteza do mercado em relação ao caminho da política monetária do Federal Reserve é outro fator-chave que desencadeou a queda do Bitcoin.

O relatório destaca a forte correlação negativa entre o preço do Bitcoin e as taxas de juros do Federal Reserve.

Por exemplo, durante o ciclo de alta de juros do Fed em 2022, a correlação atingiu -90%; já no ciclo de corte de juros em 2020, a correlação foi de -27%, com os cortes impulsionando a alta do preço do Bitcoin.

Em outubro, apesar do Fed ter cortado os juros em 25 pontos-base, quando o presidente Powell afirmou que "um novo corte em dezembro não está garantido, longe disso", o preço do Bitcoin despencou.

Logo depois, em 4 de novembro, a diretora do Fed, Cook, reiterou que não há garantia de corte de juros em dezembro, e o Bitcoin caiu mais de 6% em resposta.

Até agora neste ano, a correlação entre o retorno do Bitcoin e as taxas do Fed é de -13%. Isso mostra claramente que qualquer sinal de aperto monetário ou pausa no afrouxamento impacta diretamente o mercado de Bitcoin, que depende de liquidez.

Terceiro choque: estagnação de projetos regulatórios importantes

Em julho, a Câmara dos Representantes dos EUA aprovou o Digital Asset Market CLARITY Act, com apoio bipartidário, estabelecendo um quadro para a classificação de ativos digitais e designando a Commodity Futures Trading Commission (CFTC) como principal órgão regulador do setor, o que impulsionou uma ampla recuperação das criptomoedas.

No entanto, o ímpeto desde o verão já estagnou.

O relatório aponta que o senador republicano Tim Scott afirmou recentemente que, devido ao longo shutdown do governo dos EUA e às divergências bipartidárias sobre autenticação de identidade e controles de combate à lavagem de dinheiro em finanças descentralizadas (DeFi), o projeto não será assinado pelo Senado antes de 2026.

A estagnação regulatória impede diretamente a integração do Bitcoin em portfólios de investimento e o aprofundamento da liquidez.

O relatório mostra que, com o arrefecimento das expectativas regulatórias, a volatilidade do Bitcoin subiu do mínimo de 20% em agosto para 39%.

Ao mesmo tempo, dados do Deutsche Bank mostram que a adoção de mercado estagnou, com a taxa de uso de cripto por usuários de varejo nos EUA caindo de 17% em julho para 15% em outubro. Dados do Google Trends também indicam que o interesse global pelo Bitcoin está diminuindo.

(Tendência de popularidade das buscas por Bitcoin no mundo)

Quarto choque: saída de capital institucional e esgotamento de liquidez

Nesta rodada de queda, o esgotamento da liquidez e a saída de capital institucional formaram um ciclo vicioso.

A liquidação de 10 de outubro é um caso típico. Segundo dados da Kaiko Research, naquele dia, a profundidade do livro de ordens nas principais exchanges de criptomoedas caiu drasticamente, e a liquidez do lado vendedor chegou a desaparecer por alguns minutos.

Essa lacuna de liquidez amplificou o impacto da queda de preços e reduziu o apetite dos market makers em fornecer liquidez.

Ao contrário do início do ano, quando ETFs de Bitcoin à vista atraíram bilhões de dólares em entradas, sustentando a liquidez do mercado, as recentes liquidações provocaram uma grande saída de capital institucional.

Dados da Bloomberg mostram que ETFs de Bitcoin à vista nos EUA registraram grandes saídas líquidas diárias recentemente. Essa retirada institucional agravou ainda mais a pressão vendedora e a escassez de liquidez, levando a uma redução de cerca de 24% no valor de mercado total das criptomoedas desde o pico de outubro, mais de 1 trilhão de dólares.

(Desempenho ruim dos ETFs de Bitcoin nas últimas semanas)

Quinto choque: realização de lucros por holders de longo prazo

Diferente das quedas anteriores, impulsionadas principalmente por novatos ou traders alavancados, este ajuste viu holders de Bitcoin de longo prazo realizando lucros.

O relatório cita dados on-chain mostrando que holders de longo prazo venderam mais de 800.000 Bitcoins no último mês, o maior nível desde janeiro de 2024.

No início deste ano, muitos investidores de longo prazo estavam acumulando ou mantendo Bitcoin para enfrentar a volatilidade, sustentando a dinâmica de oferta e demanda. Dados da Glassnode mostram que, com a queda dos preços, holders de vários anos reduziram suas posições, aumentando a oferta circulante.

Ao mesmo tempo, a alta volatilidade do Bitcoin e a queda mais ampla do mercado cripto mantiveram muitos traders em posição defensiva.

O índice de medo e ganância das criptomoedas caiu para 11 pontos em 21 de novembro, o menor nível do ano. Apesar da maturidade crescente do Bitcoin, a recente retração foi suficiente para levar até mesmo holders de longo prazo a reduzir riscos, reforçando o sentimento de baixa.

A volatilidade de 30 dias do Bitcoin voltou a subir, atualmente em 39%, embora ainda não tenha atingido os níveis de 2020. A liquidação de posições alavancadas durante as vendas também intensificou o sentimento de baixa discutido pelos participantes do mercado.

(A volatilidade de 30 dias do Bitcoin voltou a subir, mas ainda está longe dos níveis de 2020)

Conclusão: um novo tipo de ajuste com participação institucional

O Deutsche Bank acredita que ainda é incerto se o Bitcoin conseguirá se estabilizar após este ajuste. Olhando para o futuro, a inclusão do Bitcoin em portfólios de investimento convencionais pode continuar em fases.

As recentes reformas regulatórias voltadas para a estrutura do mercado cripto podem trazer um quadro político mais claro, aumentando a confiança dos investidores institucionais. Ao mesmo tempo, a adoção de stablecoins por grandes instituições financeiras também pode melhorar a liquidez de todo o mercado.

Além disso, o interesse crescente de governos e bancos centrais em moedas digitais, como as iniciativas recentes de Luxemburgo e República Tcheca, mostra que a participação oficial no mercado de criptomoedas está aumentando.

No entanto, o relatório enfatiza que a incerteza e o efeito de alavancagem podem aumentar a volatilidade do preço do Bitcoin, tornando essencial a implementação de medidas rigorosas de gestão de risco à medida que o mercado de criptomoedas evolui.